A Disciplina na Igreja
Muitos são
tão impactados por Deus na sua conversão e experimentam uma transformação tão
grande, que chegam a pensar que todos na igreja são perfeitos. Porém, não é
necessário muito tempo para descobrir que isto não é verdade; todos somos
falhos e imperfeitos, e na igreja encontraremos falhas, erros e limitações.
A maneira de
se lidar com estes erros é com amor e paciência; vamos nos ajustando aos poucos
e assim prosseguimos. Mas quando se trata de pecado, a igreja deve agir
diferente, deve usar de disciplina.
Na igreja
encontraremos todo tipo de gente; aqueles que querem levar Deus a sério, e os
que não. O Senhor Jesus disse que quando a rede é lançada ao mar, recolhe todo
tipo de peixes: bons e ruins (Mt.13:47,48); nesta mesma ocasião Jesus também
ilustrou isto de outra forma, falou acerca do joio e do trigo para mostrar que
na igreja temos todo tipo de gente. O Senhor nos preveniu que haveria escândalos
em nosso meio (Mt.18:7), deixando claro que estes por quem vem os
escândalos serão julgados, mas que é inevitável que isto ocorra.
Quando o
evangelho é proclamado, a pessoa é convidada a vir a Deus como está, mas depois
que passa a pertencer à Igreja do Senhor terá que se ajustar à Sã Doutrina.
Todos somos
falhos e pecamos. Como diz a Escritura "Se dissermos que não temos
pecado nenhum, enganamo-nos a nós mesmos, e não há verdade em nós"(I
Jo.1:4). Portanto, não é qualquer pecado que nos fará sermos disciplinados,
senão viveríamos só de disciplina. Quando pecamos, devemos nos arrepender e
confessar nossos pecados e seremos perdoados (I Jo.1:9); a disciplina é para
tratar com quem peca e não quer se arrepender, insistindo em viver no pecado.
Somos um
corpo
Não podemos
perder de vista que ninguém vive espiritualmente isolado; somos membros uns dos
outros e constituímos um só corpo. Quando alguém passa a viver no pecado fere
não só a si mesmo, mas também ao corpo de Cristo!
O Velho
Testamento nos revela como o pecado de um só homem, Acã, prejudicou todo Israel
e como foi necessário que ele fosse julgado (Js.7:11-26). O Novo Testamento
enfatiza muito a idéia do corpo; quando Jesus envia sua mensagem a cada uma das
sete igrejas da Ásia (Ap.2 e 3), ele as trata como um todo tanto ao falar de
suas virtudes como também de seus erros.
Os Quatro
Níveis da Disciplina na Igreja
Jesus foi
quem primeiro falou de disciplina no Novo Testamento:
"Ora,
se teu irmão pecar contra ti, vai, e repreende-o entre ti e ele só. Se te
ouvir, ganhaste a teu irmão. Mas se não te ouvir, leva contigo um ou dois, para
que pela boca de duas ou três testemunhas toda palavra seja confirmada.E se não
ouvir, dize-o à igreja; e, se também não ouvir a igreja, considera-o como
gentio e publicano".
Mt.18:15-17.
Há quatro
níveis distintos no processo de disciplina que o Senhor ensinou:
1.
Repreensão pessoal;
2.
Repreensão com testemunhas;
3.
Repreensão pública;
4. Exclusão.
Não
praticamos a disciplina quando a pessoa se arrepende, mas sim quando ela se
recusa a arrepender-se. E neste caso, dentro de uma progressividade; com a
repreensão pessoal primeiro, a com testemunhas em segundo, a diante da igreja
em terceiro e só então a exclusão em quarto lugar. Não podemos excluir alguém
sem ter dado antes estes passos. Porém, alguém pode não querer receber os
primeiros níveis da repreensão fugindo deles; neste caso, constatada a
indiferença e relutância da pessoa, passamos então ao quarto nível,
subentendendo terem sido os outros insuficientes ou impraticáveis.
Quando a
repreensão se torna pública, ainda que seguida de arrependimento, e a pessoa em
questão é um líder, a disciplina se manifestará afastando a pessoa de sua
posição de liderança até comprovada restauração.
Repreensão
pessoal
Vários
textos bíblicos falam sobre a necessidade de repreensão. E não são
necessariamente ligados ao presbitério, pois no corpo de Cristo ministramos uns
aos outros. Neste nível se enquadram os líderes de célula e todos que exercem
cuidado por outras pessoas no Corpo. Veja alguns deles:
"Exortamo-vos,
também, irmãos, a que admoesteis os insubmissos..."
I
Tessalonicenses 5:14.
"Não
deixemos de congregar-nos, como é costume de alguns; antes, façamos
admoestações, e tanto mais vedes que aquele dia se aproxima"
Hebreus
10:25.
"Ora,
é necessário que o servo do Senhor não viva a contender, e, sim, deve ser
brando para com todos, apto para instruir, paciente; disciplinando com mansidão
os que se opõem, na expectativa de que Deus lhes conceda não só o
arrependimento para conhecerem plenamente a verdade"
II
Timóteo 2:24,25.
Note que
corrigir não significa contender, mas demonstrar cuidado com mansidão.
Quando porém, a situação se agrava, é necessário que o governo da Igreja (os
presbíteros) assuma a situação, que pode ser delicada e necessitar que a
autoridade espiritual seja imposta, como Paulo fez com os coríntios (II Co.13:2
e 10).
Repreensão
com Testemunhas
Além da
instrução do Senhor Jesus, não encontramos outro texto que fale com clareza
sobre este nível de disciplina, mas ele é muito eficaz por tirar a situação do
aspecto pessoal e colocá-la num patamar de formalidade. E se as pessoas
escolhidas para acompanharem a repreensão forem pacificadoras, serão de grande
proveito para promoverem o arrependimento com argumentação mansa e amorosa.
Em caso de
resistência da pessoa que está sendo repreendida, ela deve ser avisada que
assim como o segundo nível de repreensão não foi aceito, será necessário o
terceiro num culto público, e que permanecendo ainda inflexível ela chegará ao
quarto nível: a exclusão.
Repreensão
Pública
Ao dizer que
levasse a repreensão para o terceiro nível, à Igreja, Jesus não se referia a
tratar a questão na Igreja (templo) ou com os líderes da Igreja, como alguns
gostariam que fosse. Na verdade, Ele se referia a tratar a questão em público.
Paulo também falou sobre este princípio ao escrever para seu discípulo Timóteo:
"Quanto
aos que vivem no pecado, reprende-os na presença de todos, para que também os
demais temam".
I Timóteo
5:20.
E a razão
para isto é clara: "Para que outros tenham temor". Toda a Igreja
precisa ser ensinada sobre a disciplina cristã e vê-la funcionando quando
necessário. Somos um corpo no Senhor; o pecado contínuo de alguém prejudicará a
todos. O único meio de evitar isto é cortando a raiz do pecado com
arrependimento ou cortando a pessoa (quando ela não quer se arrepender) da
comunhão do corpo. Diante da Igreja ela será obrigada a optar entre um ou
outro.
A
Exclusão
Na Igreja de
Corinto, alguém chegou ao ponto de se envolver sexualmente com a madrasta (I
Co. 5:1). Tão logo isto chegou ao conhecimento do apóstolo Paulo, ele ordenou: "Tirai
do meio de vós a esse iníquo". Antes, contudo, deixou claro em que
condições isto deve acontecer:
"Já
em carta vos escrevi que não vos associásseis com os impuros; refiro-me com
isto não propriamente aos impuros deste mundo, ou avarentos, ou roubadores, ou
idólatras, pois neste caso teríeis que sair do mundo.
Mas agora
vos escrevo que não vos associeis com alguém que, dizendo-se irmão, for impuro,
ou avarento, ou idólatra, ou maldizente, ou beberrão, ou roubador; com esse tal
nem ainda comais.
Pois com
que direito haveria eu de julgar os de fora? Não julgais vós os de dentro? Os
de fora, porém, Deus os julgará. EXPULSAI, pois, de entre vós o
malfeitor".
I
Coríntios 5:9-13.
Observe o
detalhe que Paulo inseriu ao falar do pecador: "dizendo-se irmão".
Isto se refere a quem quer se parecer irmão sem o ser; não fala de uma queda ou
tropeço espiritual, mas de uma prática continuada nestes pecados.
Excluir não
significa proibir a pessoa de colocar o pé na Igreja, mas sim deixar de reconhecê-la
como parte do corpo, e isto envolve deixar de se relacionar (Tt.3:10,11), de
ter comunhão com a pessoa. Isto fica claro quando o apóstolo diz: "com
o tal nem ainda comais". Paulo explica melhor esta distinção na sua
carta aos tessalonicenses:
"Caso
alguém não preste obediência à nossa palavra dada por esta epístola, notai-o;
nem vos associeis com ele, para que fique envergonhado.
Todavia,
não o considereis por inimigo, mas adverti-o como irmão".
II
Tessalonicenses 3:14,15.
Este
princípio já havia sido estabelecido desde o Velho Testamento, onde havia
vários motivos pré-estabelecidos para exclusão.
O
motivo é poupar o corpo de prejuízos espirituais, e não tentar manter um
controle sobre as pessoas. Os casos não manifestos não chegam a ser tratados na
Igreja, só os que chegam a ser conhecidos.
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